sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

O encontro


Um som estridente de buzina me trás a realidade.

Estou acordado e em meio a uma chuva torrencial, mas onde estou?

Porque estava ali, naquele local?

De repente me sentia vivo como a muito tempo não me sentia.

Estou em pé e na minha frente vejo um antigo carro preto ao qual as chaves estão na minha mão.

Olho para o meu reflexo no vidro do carro, observo calmamente o meu rosto, estou nitidamente mais velho, ostento uma barba com os primeiros fios grisalhos.

Reconheço meu rosto, mas não a minha idade, sequer me lembrava com barba.

Uma olhada no meu entorno, e percebo que estou em uma pequena cidade, e busco por referências.

Em minhas memorais essa cidade me parece familiar, sinto que já estive ali, mas há quanto tempo atrás?

Resolvo então deixar o tal carro preto e saio andando sob a chuva, caminho em direção a uma praça e ando lentamente sem pressa alguma, enquanto busco compreender se de fato há algum sentido nisso tudo.

Não levo comigo um guarda chuvas e isso pouco me importa agora, pois a chuva não me incomoda, pelo contrario, parece revigorante, sinto-me mais forte e até mesmo conectado com tudo que acontece a minha volta.

Os sons parecem mais nítidos do que nunca, e os cheiros também.

Sinto cheiro da grama molhada, e o cheiro das pipocas, mesmo há mais de 50 metros.

Consigo distinguir o som das gotas de chuva em razão de onde elas caem, seja no chão, seja na grama, seja na estrutura metálica ao lado da praça.

Nesse momento as luzes da praça se acedem anunciando o fim de mais um dia.

As ultimas pessoas ali se apressam, seja pela chuva, seja em virtude do horário, os pontos comercias já estão fechando.

Estou no meio da praça, e me volto em direção de onde vim andando, consigo mesmo de longe ver o antigo carro preto parado, mas nesse momento algo começa a chamar minha atenção.

Uma mulher vem lentamente caminhando em minha direção.

Anda como se estivesse passeando em um belo dia de sol, comportamento incomum, dados horário e até mesmo a chuva.

Uma linda mulher, com cabelo solto, usava uma blusinha azul, calça jeans rasgada e uma linda sapatilha que estava toda molhada, mas mesmo assim ela desfilava.

Caminha em minha direção, e percebo em seu rosto um belo sorriso, como se me reconhecesse.

Comecei a fitar seu rosto, sua forma de andar, seu maravilhoso tom de pele, fico admirado perante tamanha beleza.

De fato seu rosto não me é estranho, mas de onde eu há conheço, se é que conheço?

Ela finalmente chega ate mim, me olha nos olhos e fala o meu nome e de forma muito cordial estende a mão para me cumprimentar.

E sem qualquer cerimonia ela me da o seu guarda chuvas ao qual nesse momento passamos a dividir.

Neste momento uma atmosfera maravilhosa toma conta do lugar, sua voz soa doce aos meus ouvidos feito uma linda canção a qual sempre gostamos de ouvir por diversas vezes.

Aquela praça vazia, a chuva que teimava em continuar caindo.

Duas pessoas dividindo um guarda chuva e mais nada.

Olhos nos olhos, e eu podia ver a alegria nos olhos dela, possuía um olhar doce e singelo.

Um longo abraço, ao qual poderia ser definido como perfeito.

Seguido de um beijo, que de tão bom  parecia ter sido milimetricamente calculado e encaixado de forma perfeita no momento perfeito.

E assim perdemos completamente a noção de tempo e espaço.

O mundo parecia girar devagar, e neste momento eu tinha em mente duas coisas.

A primeira delas é que de eu estava vivo, e isso era muito real.

A segunda de que a praça, a chuva e mudanças de temperatura, tornaram o que poderia ser algo ruim um encontro maravilhoso.

De fato perdemos totalmente a noção de tempo, e de uma maneira diferente com que ela chegou calma e sem pressa, ela precisou ir embora.

Se apressou rumo ao seu carro, pois precisava ir embora, já era tarde.

Eu a acompanhei, e ali nos despedimos com um beijo carinhoso, um abraço apertado e um desejo no coração de que isso se repita.

Olhando ela enquanto entrava no carro eu dizia, mas não sei se de fato ela ouviu, mas eu disse:

Por favor se lembre de mim.

Eu assim como ela também entrei no meu carro, e continuei dizendo enquanto olhava pra ela.

Por favor lembre se mim.

Fui embora, e sempre que me lembro de você vem a frase a mente.

Por favor lembre se de mim. 

E se um dia você ler isso,

Por favor, lembre se de mim!


01:30am